quero te esgotar a vida te impedir de respirar arrancar teus
cabelos comer rir gozar quero te sufocar a risada e te arranhar o
sorriso te tapar os ouvidos te esvaziar de som te entupir dos
meus fluídos te estripar e dar tuas vísceras aos cães famintos
da rua – que não sobre nenhuma tripa pra corda de lira alguma! -
quero te impedir a rima te trair te desprezar te fazer versos nem
que seja do vidro mordido te dar as costas cuspir no nosso prato
desfazer das nossas juras e pisotear nossas lembranças
incinerar a memória dos nossos vícios - foram muitos - quero te
desfigurar te deslembrar sacanear essa alegria que ainda
reverbera nos meus sentidos quero te voltar pro não
pra quando não
pra nunca
quero tirar meu corpo do bueiro
e o teu do armário
xxx
você e o teu riso sardônico, marcelo
tuas sardas no nariz adunco
tuas palavras de míssil balístico
minha vida é um solilóquio infindo
careço dizer pra mim
e acreditar no que digo, marcelo
ontem, à noite, fazia muito calor
eu me deitei na minha rede
por pura malcriação
e pensei:
se eu cair daqui, não morro.
já é uma vantagem em tempos tão vertiginosos.
xxx
podes espernear e estrebuchar e inquirir quando vai passar,
marcelo
e me exigir que passe, chorar as lágrimas de mil crocodilos
fossilizados e proclamar que não merece, é bom filho come
todos os legumes não tens nenhuma deficiência de potássio,
que já passou há muito dos limites que sua paciência se
esgotou que suas forças se exauriram que é desumano -
pobrezinho! - que não tem mais a menor graça meu feitiço
meu olho meus buracos intermináveis
que já estas de saco cheio, marcelo. que não aguenta mais
brincar disso, disso que esfola e esquarteja, desse jogo que te
deixa macambúzio que te deixa empertigado que te deixa
cabreiro com a vida,
que assim não é direito, que não vais mais acariciar minhas
víboras, que sou uma mulherzinha baixa, eu e meus paganismos
eu e meus incensos eu e meus rituais atropelados, podes xingar
e esbravejar e se emputecer e clamar aos deuses e a todos os
orixás e pedir manuais e filosofias e verdades absolutas e
acender 7 velas à são cipriano
manda beijos à tua devota mãe por mim, marcelo
podes gritar urrar tomar um porre de autopiedade
estilhaça a vidraça do vizinho bate a cabeça em todos os muros
da sala rala os cotovelos no chapisco aprende culinária tailandesa
choras, benzinho mas choras de olhos abertos
alavanca essas pálpebras choras intempestivo como a pororoca
amazônica choras sem paz encolhido na loucura choras por
mim que valho pouco
choras, marcelo
como as crianças e os suicidas
xxx
talvez ele não
saiba que toda noite
antes de dormir como um
cachorro perseguindo o próprio
rabo eu peço
fica por favor
eu imploro ridícula
por favor
me queira
até minha boca
encher de pragas ou de flores
talvez amanhã
diga a ele por favor
mas me afundo
em meu próprio mito da caverna
particular
como as águas-vivas
que passam a vida
tentando pulverizar o próprio
corpo
e não conseguem
xxx
nostalgia
assassinato terrivelmente lento
com uma arma extremamente
ineficaz
os olhos dele piscam
contra a luz
polaroid:
aqui dentro
sístole
pausa
diástole
e o meu corpo de repente
abarrotado
de sol
xxx
Deus dos sem deuses
Diga-me qual é a mecânica dos fluídos
a
grande rasteira da vida
que nos impede, ele e eu
de estar neste
meridiano
em chamas
meus lençóis
repletos dele
ondulantes de sangue
grosso
pois cada noite
de suspiro
ou orgasmo
tenho eu uma nova
veia
e extravagante origem.
Vez ou outra
de vez em sempre, acho
a sensatez
me absurda
me ponho a examinar
estas coisas
assim banais
a
arqueologia dos destroços
e dela me
confranjo.
Diga-me
porque penetramos, ele e eu
na divisa do tempo
o tridente dele
cravado
na minha in(decência)
agora espumante
e porque
a lembrança
- indecente também -
é este
rompedor de peles
gutural
e tão milimetricamente
exato.
Diga-me
sobre esta
fúria
de virar cometa
por pura obrigação mundana
porque quero
insana
corrigir as vírgulas
- as dele no lugar errado
apenas para ter
o imenso prazer
de estragar:
estuprar
suas manias
idiomáticas
o sotaque
arrastado
etc e tal
e quem sabe até
a sua
irritante
tranquilidade
de animal
o masculino
de um feminino
uterino e reticente.
Hoje talvez eu queira
indagar ao deus
de tantos deuses
porque nos sentimos
ancorados, ele e eu
na mesma antítese
e entender
o meu desejo
de sabotar os vivos
ovular asteróides
todo bendito mês
desaguar
meu néctar
em TUDO
na flora amazônica
dos seus poros
- os dele
em vilarejos
que começam
no alto da cabeça
e vão até
a planta dos pés
xxx
Eu não sou Jesus Cristo
A vontade
pontiaguda
fina
e cálida
alcançando
o Aconcágua
e eu tépida
e eu possuída
e eu eclesiástica
e vejo
que
a via-láctea
tem mais
átomos
(distraídos)
agora
do que
sempre.
Ainda bem, amor.
xxx
deus na sua perversidade
nunca me permitiu uma nesga do éden
roa os ossos de adão, disse deus
meu pássaro na garganta empoleirou-se
encolheu o pezinho e guardou a cabeça na asa
nenhum pio
mas é sempre penoso engolir
cabelos comer rir gozar quero te sufocar a risada e te arranhar o
sorriso te tapar os ouvidos te esvaziar de som te entupir dos
meus fluídos te estripar e dar tuas vísceras aos cães famintos
da rua – que não sobre nenhuma tripa pra corda de lira alguma! -
quero te impedir a rima te trair te desprezar te fazer versos nem
que seja do vidro mordido te dar as costas cuspir no nosso prato
desfazer das nossas juras e pisotear nossas lembranças
incinerar a memória dos nossos vícios - foram muitos - quero te
desfigurar te deslembrar sacanear essa alegria que ainda
reverbera nos meus sentidos quero te voltar pro não
pra quando não
pra nunca
quero tirar meu corpo do bueiro
e o teu do armário
xxx
você e o teu riso sardônico, marcelo
tuas sardas no nariz adunco
tuas palavras de míssil balístico
minha vida é um solilóquio infindo
careço dizer pra mim
e acreditar no que digo, marcelo
ontem, à noite, fazia muito calor
eu me deitei na minha rede
por pura malcriação
e pensei:
se eu cair daqui, não morro.
já é uma vantagem em tempos tão vertiginosos.
xxx
podes espernear e estrebuchar e inquirir quando vai passar,
marcelo
e me exigir que passe, chorar as lágrimas de mil crocodilos
fossilizados e proclamar que não merece, é bom filho come
todos os legumes não tens nenhuma deficiência de potássio,
que já passou há muito dos limites que sua paciência se
esgotou que suas forças se exauriram que é desumano -
pobrezinho! - que não tem mais a menor graça meu feitiço
meu olho meus buracos intermináveis
que já estas de saco cheio, marcelo. que não aguenta mais
brincar disso, disso que esfola e esquarteja, desse jogo que te
deixa macambúzio que te deixa empertigado que te deixa
cabreiro com a vida,
que assim não é direito, que não vais mais acariciar minhas
víboras, que sou uma mulherzinha baixa, eu e meus paganismos
eu e meus incensos eu e meus rituais atropelados, podes xingar
e esbravejar e se emputecer e clamar aos deuses e a todos os
orixás e pedir manuais e filosofias e verdades absolutas e
acender 7 velas à são cipriano
manda beijos à tua devota mãe por mim, marcelo
podes gritar urrar tomar um porre de autopiedade
estilhaça a vidraça do vizinho bate a cabeça em todos os muros
da sala rala os cotovelos no chapisco aprende culinária tailandesa
choras, benzinho mas choras de olhos abertos
alavanca essas pálpebras choras intempestivo como a pororoca
amazônica choras sem paz encolhido na loucura choras por
mim que valho pouco
choras, marcelo
como as crianças e os suicidas
xxx
talvez ele não
saiba que toda noite
antes de dormir como um
cachorro perseguindo o próprio
rabo eu peço
fica por favor
eu imploro ridícula
por favor
me queira
até minha boca
encher de pragas ou de flores
talvez amanhã
diga a ele por favor
mas me afundo
em meu próprio mito da caverna
particular
como as águas-vivas
que passam a vida
tentando pulverizar o próprio
corpo
e não conseguem
xxx
nostalgia
assassinato terrivelmente lento
com uma arma extremamente
ineficaz
os olhos dele piscam
contra a luz
polaroid:
aqui dentro
sístole
pausa
diástole
e o meu corpo de repente
abarrotado
de sol
xxx
Deus dos sem deuses
Diga-me qual é a mecânica dos fluídos
a
grande rasteira da vida
que nos impede, ele e eu
de estar neste
meridiano
em chamas
meus lençóis
repletos dele
ondulantes de sangue
grosso
pois cada noite
de suspiro
ou orgasmo
tenho eu uma nova
veia
e extravagante origem.
Vez ou outra
de vez em sempre, acho
a sensatez
me absurda
me ponho a examinar
estas coisas
assim banais
a
arqueologia dos destroços
e dela me
confranjo.
Diga-me
porque penetramos, ele e eu
na divisa do tempo
o tridente dele
cravado
na minha in(decência)
agora espumante
e porque
a lembrança
- indecente também -
é este
rompedor de peles
gutural
e tão milimetricamente
exato.
Diga-me
sobre esta
fúria
de virar cometa
por pura obrigação mundana
porque quero
insana
corrigir as vírgulas
- as dele no lugar errado
apenas para ter
o imenso prazer
de estragar:
estuprar
suas manias
idiomáticas
o sotaque
arrastado
etc e tal
e quem sabe até
a sua
irritante
tranquilidade
de animal
o masculino
de um feminino
uterino e reticente.
Hoje talvez eu queira
indagar ao deus
de tantos deuses
porque nos sentimos
ancorados, ele e eu
na mesma antítese
e entender
o meu desejo
de sabotar os vivos
ovular asteróides
todo bendito mês
desaguar
meu néctar
em TUDO
na flora amazônica
dos seus poros
- os dele
em vilarejos
que começam
no alto da cabeça
e vão até
a planta dos pés
xxx
Eu não sou Jesus Cristo
Eu não sou Jesus Cristo
não tenho a resposta
para as suas madrugadas
de choro sentido
Não aceitei
aquela maçã maldita
a polpa suculenta
do pecado original
(e deveria)
Não mandei o dilúvio
assolar a terra
nem mostrei a minha ira
preta rendada libido
cinta-liga
Eu não sou Jesus Cristo
eu não vim com a missão divina
de salvar porra nenhuma
eu vim pra desonrar
pra ser torpe
vexatória
pra ser a Maria Madalena
que o mundo denegriu
Dopamina
reverberando num sistema
Ácido
no vinho sacrossanto
Eu não sou Jesus Cristo, amor
Não me olhe com olhos utópicos
nem com a fé cega
dos que acreditam no céu
Não me venha
com bondade
estandartes
santas ceias
e milagres
Não pense que sou Jesus
e disserte
sobre a sua Perestroika
na minha antiga
ofendida
devastada União Soviética
(fariseu é só um adjetivo)
Não tente me catequizar
Eu não sou Jesus Cristo
não expulso ninguém do paraíso
de preferências ortodoxas
só tenho uma
nem beata nem puta
desdobrável
talvez vulgar
em dias ímpares obsessiva
Não vou me privar de ser
tendenciosa
pretensiosa
espalhafatosa
Eu não sou Jesus Cristo
mas confesso que hoje adoraria ser
o Messias aguardado
só para ser a responsável
pelos royalties do planeta
chegar de túnica branca
(transparente)
sentenciar o apocalipse
com a minha voz às seis oitavas
raios e trovões
alta voltagem
cataclismas mundiais
Hoje eu queria ser o Messias
Jah
Allah
Oxalá
só pra aumentar
a sua pressão arterial
Te dizer que adoro
ser violada
feito uma caixa de Pandora
cheia de ossos
nervos ocos
superego
Freud entende
a minha pulsão sexual
e que o deserto
o deserto está à porta
e eu te peço, amor:
deixe ele entrar.
Ser humana hoje
só para me sentir
uma mosca varejeira
na ambrosia dos deuses
Ser humana apenas para ser nômade
anfitriã do pecado
Mas antes de tudo
urgentemente
ser Jesus Cristo amanhã
pra chegar no Vaticano e ordenar:
- Canonizem
o meu desejo
em todas as galáxias.
xxx
não tenho a resposta
para as suas madrugadas
de choro sentido
Não aceitei
aquela maçã maldita
a polpa suculenta
do pecado original
(e deveria)
Não mandei o dilúvio
assolar a terra
nem mostrei a minha ira
preta rendada libido
cinta-liga
Eu não sou Jesus Cristo
eu não vim com a missão divina
de salvar porra nenhuma
eu vim pra desonrar
pra ser torpe
vexatória
pra ser a Maria Madalena
que o mundo denegriu
Dopamina
reverberando num sistema
Ácido
no vinho sacrossanto
Eu não sou Jesus Cristo, amor
Não me olhe com olhos utópicos
nem com a fé cega
dos que acreditam no céu
Não me venha
com bondade
estandartes
santas ceias
e milagres
Não pense que sou Jesus
e disserte
sobre a sua Perestroika
na minha antiga
ofendida
devastada União Soviética
(fariseu é só um adjetivo)
Não tente me catequizar
Eu não sou Jesus Cristo
não expulso ninguém do paraíso
de preferências ortodoxas
só tenho uma
nem beata nem puta
desdobrável
talvez vulgar
em dias ímpares obsessiva
Não vou me privar de ser
tendenciosa
pretensiosa
espalhafatosa
Eu não sou Jesus Cristo
mas confesso que hoje adoraria ser
o Messias aguardado
só para ser a responsável
pelos royalties do planeta
chegar de túnica branca
(transparente)
sentenciar o apocalipse
com a minha voz às seis oitavas
raios e trovões
alta voltagem
cataclismas mundiais
Hoje eu queria ser o Messias
Jah
Allah
Oxalá
só pra aumentar
a sua pressão arterial
Te dizer que adoro
ser violada
feito uma caixa de Pandora
cheia de ossos
nervos ocos
superego
Freud entende
a minha pulsão sexual
e que o deserto
o deserto está à porta
e eu te peço, amor:
deixe ele entrar.
Ser humana hoje
só para me sentir
uma mosca varejeira
na ambrosia dos deuses
Ser humana apenas para ser nômade
anfitriã do pecado
Mas antes de tudo
urgentemente
ser Jesus Cristo amanhã
pra chegar no Vaticano e ordenar:
- Canonizem
o meu desejo
em todas as galáxias.
xxx
A vontade
pontiaguda
fina
e cálida
alcançando
o Aconcágua
e eu tépida
e eu possuída
e eu eclesiástica
e vejo
que
a via-láctea
tem mais
átomos
(distraídos)
agora
do que
sempre.
Ainda bem, amor.
xxx
deus na sua perversidade
nunca me permitiu uma nesga do éden
roa os ossos de adão, disse deus
meu pássaro na garganta empoleirou-se
encolheu o pezinho e guardou a cabeça na asa
nenhum pio
mas é sempre penoso engolir
Luana Muniz, estudante de Letras da UFMG, obsessiva, histriônica, tarada da peste. 23 anos e uma preferência pouco ortodoxa pelos temas eróticos. Escreve uns saltos quânticos (nunca soube o que é um salto quântico, que perigo!) no blog Cronisias e outros poemas avulsos na internet.
"até minha boca
ResponderExcluirencher de pragas ou de flores"
E viva à intensidade!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluiruau!
ResponderExcluirbelo começo!
obrigada por me apresentar à poesia da Luana! ;)
(apaguei o comentário anterior. achei que ficou muito "jogador de futebol" rs.)
Parabéns Luana! Arrebenta!
ResponderExcluirParabéns Luana! Arrebenta!
ResponderExcluir