segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Pilar Bu

























Resistirmos, a que será que se destina?

“apenas a matéria vida era tão fina
e era olharmo-nos intacta retina”
Caetano


minha cabeça sangra
meu nariz sangra
sou uma bomba-relógio
mulher-bomba

se eu pudesse
arrancar com pinça
um a um
os pensamentos
sofreria menos
seria menos

mas no fundo
do nervo óptico
em cada osso
da espinha
nas flores
arrancadas do pé
da barriga
resistiria


xxx



Soror
(para as ninjas)

descobri em você
uma forma de ser livre

Juntas
subvertemos os bons
deturpamos as regras
destruímos a moral
queimamos os manuais

e fizemos tudo
à nossa maneira

encaramos o medo
saltamos no abismo
assumimos a luta
vestimos a imperfeição

abrimos a porta
do inferno
não voltamos mais.


xxx



Zumbis à Calamari

frito ovos com
massa encefálica
os restos
jogo no quintal


xxx



Polishop Selvagem

A letargia desses dias
é a vontade
louca
de me jogar
em um multiprocessador
de cinco velocidades
e zero perdão


xxx



Translúcido e cortante

ainda que a boca
não te dê o deleite
dos lábios
toma essa palavra
entorpecida de sangue
pica com as mãos
e come.


xxx



Linha Turka

nem pó
nem estricnina

arrumei
a cama
a cidade
a estrada

inexistia
necessário
à luz
do dia

não sabia
Dividir-me


xxx


Com as mãos adubar a terra

em todo verme
existe saudade


xxx



Paralelas

saiba que
virando a esquina
nada mais
te espera








Pilar Bu é vampira, leoa, sereia e mãe felina de quatro gatos. Poeta e mestranda em Literatura pela Universidade Federal de Goiás, já tendo pulicado em diversas revistas eletrônicas. É uma das fundadoras do #leiamulheres Goiânia, além de uma das organizadoras do festival literário [Eu sou poeta]. Já publicou em coletâneas como Maus Escritores (Demônio Negro, 2009) e Os olhos do bilheteiro (Nega Lilu, 2016). Seu primeiro livro de poemas, Ultraviolenta (Kotter Editorial), foi lançado em 2017 em cidades como Goiânia, Brasília e Rio de Janeiro e em breve será lançado em São Paulo e Curitiba. Sua área de estudos é a representação e autorrepresentação de mulheres na literatura, estudos de gênero, autoria feminina e teorias feministas. Acredita na força do superlativo e em versos como vidro: translúcidos, frios, duros e cortantes.

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