Resistirmos, a que será que se destina?
“apenas
a matéria vida era tão fina
e
era olharmo-nos intacta retina”
Caetano
minha cabeça sangra
meu nariz sangra
sou uma bomba-relógio
mulher-bomba
se eu pudesse
arrancar com pinça
um a um
os pensamentos
sofreria menos
seria menos
mas no fundo
do nervo óptico
em cada osso
da espinha
nas flores
arrancadas do pé
da barriga
resistiria
xxx
Soror
(para
as ninjas)
descobri
em você
uma
forma de ser livre
Juntas
subvertemos
os bons
deturpamos
as regras
destruímos
a moral
queimamos
os manuais
e
fizemos tudo
à
nossa maneira
encaramos
o medo
saltamos
no abismo
assumimos
a luta
vestimos
a imperfeição
abrimos
a porta
do
inferno
não
voltamos mais.
xxx
Zumbis à Calamari
frito ovos com
massa encefálica
os restos
jogo no quintal
xxx
Polishop Selvagem
A letargia desses dias
é a vontade
louca
de me jogar
em um multiprocessador
de cinco velocidades
e zero perdão
xxx
Translúcido e
cortante
ainda que a boca
não te dê o
deleite
dos lábios
toma essa palavra
entorpecida de
sangue
pica com as mãos
e come.
xxx
Linha Turka
nem pó
nem estricnina
arrumei
a cama
a cidade
a estrada
inexistia
necessário
à luz
do dia
não sabia
Dividir-me
Com as mãos adubar a terra
em todo verme
existe saudade
xxx
Paralelas
saiba que
virando a esquina
nada mais
te espera
Pilar Bu é vampira, leoa,
sereia e mãe felina de quatro gatos. Poeta e mestranda em Literatura pela
Universidade Federal de Goiás, já tendo pulicado em diversas revistas
eletrônicas. É uma das fundadoras do #leiamulheres Goiânia, além de uma das
organizadoras do festival literário [Eu sou poeta]. Já publicou em coletâneas
como Maus Escritores (Demônio Negro, 2009) e Os olhos do bilheteiro (Nega Lilu,
2016). Seu primeiro livro de poemas, Ultraviolenta (Kotter Editorial), foi
lançado em 2017 em cidades como Goiânia, Brasília e Rio de Janeiro e em breve
será lançado em São Paulo e Curitiba. Sua área de estudos é a representação e
autorrepresentação de mulheres na literatura, estudos de gênero, autoria
feminina e teorias feministas. Acredita
na força do superlativo e em versos como vidro: translúcidos, frios, duros e
cortantes.